quarta-feira, 22 de junho de 2016

A Ilusão da Liberdade

O existencialismo francês, na figura do pensador Jean-Paul Sartre, sustenta a existência humana a partir de uma liberdade incondicional; “o homem está condenado à liberdade”. Nesse caso, nada se pode fazer, a não ser: inventar a própria saída para os impasses, nos quais está submetido, exercendo a sua liberdade e, portanto, ele mesmo é o responsável pelos seus atos. Ninguém, ou nada, poderia ofuscar a sua liberdade, pois o homem vive, perenemente, com essa efetiva obrigação em sua vida. A pergunta que se faz, portanto, é: baseado em que se pode ter tal constatação, já que primeiramente precisa ser lembrado, a liberdade é um conceito abstrato e, como diria Kant, metafísico, então dentro da seleção do que ele considerou como “antinomia da razão”? Liberdade, assim como o espaço, o tempo e a ideia de Deus, não se tem como estabelecer parâmetro aceitável e universal. Ou ainda: quando não se agrega um adjetivo para o termo liberdade generaliza-se, o que torna impossível o seu uso. Ora, condenar os humanos a liberdade é muito mais um ‘dever ser’, um ‘querer livre’ que se entende como apenas uma expressão que surge, presa a uma época de tantas lutas por liberdades políticas, liberdades artísticas e de expressão de um modo geral. Se o homem fosse mesmo condenado a liberdade, como ficaria a sua ancestralidade - condicionada por uma carga biológica desmedida – e como ficaria a sua herança histórica? Ou, a sociedade não tem força coercitiva (princípios morais, normas positivas etc.) sobre os indivíduos? Ora, o que se pode pensar como liberdade precisa trazer no seu bojo o adjetivo de social. Isso quer dizer: o homem só existe enquanto ser da história. Ou ainda: a sua liberdade é condicionada socialmente. Em vários momentos da vida o homem acredita que toma decisões, mas o que faz mesmo é seguir os caminhos traçados pela sua herança genética e os valores produzidos socialmente. Acontece que cada indivíduo processa as informações que recebe a todo instante diferentemente de um do outro, devido uma teia de fatores imensa, construindo assim a ilusão de liberdade, de que a todo instante precisa tomar decisões. As pessoas necessitam viver em determinadas temperaturas, caso contrário vão a morte; não falam língua se não as aprenderem, não vivem sem comida, não conhecem a consciência do outro que está mesmo a seu lado. Enfim: os homens são consciências, presas a seus corpos, sonhando com os inúmeros mitos que acabaram criando e, um deles, é o da liberdade.

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