sexta-feira, 3 de junho de 2016

Filosofia e Noções de Validade

Assim como os mitos não são mitos para aqueles que vivem e se envolvem em tal relação com o sagrado ou, assim como não é ideologia para aqueles que acreditam em tais noções, assim também as ideias são verdadeiras para aqueles que as escrevem. Se no ato de falar a pessoa expressa uma mera opinião, quando escreve um trabalho de profundidade científica, acadêmica, sempre expressará o que pensa ser necessário, verdadeiro e calcado em suas pesquisas, por mais banal que o tema possa parecer. Mesmo Nicolau Maquiavel, quando escreveu para ensinar o príncipe a governar, precisou contrariar os interesses imediatos dos súditos de Florença, mas pensou, com isso, ensinar o que entendia ser melhor. Do mesmo modo quando Platão escreveu A República, que colocou na boca de Sócrates, aquele que contemplara o agathon, descreveu uma cidade baseada na verdadeira ideia do bem, a kalipolis. Assim, quando Kant expôs suas ideias de juízo, construiu uma noção nova de filosofia na busca pela superação do idealismo alemão, e fez, definitivamente, a “revolução copernicana”. Da mesma forma, ao comparar as estrelas no céu com as leis no coração dos homens, ele construiu o seu pensamento ético/moral com o intuito de responder às necessidades daquele período que se pensava ser o das luzes. A crítica que se faz, acusando um ou outro pensador de romântico por ter feito do seu pensamento a construção de uma noção de verdade, como se fosse apenas um sonho, sem base concreta, como se tal crítico fosse agora o descobridor de uma verdade superior é frágil por si só. Os mesmos argumentos que se fazem sobre tal e tal pensamento, se remetem também àquele que se acredita para além de tais noções. Quando búlgaro, Tzvetan Todorov, se perguntou “Depois da morte de Deus e do desmoronamento das utopias, sobre qual base intelectual e moral queremos construir nossa vida comum?”, em O Espírito das Luzes, trás, intrinsecamente, a construção de mais uma noção de validade. De modo que as mesmas críticas que ele faz à “paz perpétua” de Kant, pode ser pensada para si também. Acontece que as noções de verdades produzidas pela humanidade – mesmo as produções científicas, em suas estruturas complexas - estão em seus cérebros, armazenadas da mesma forma, como os mais precários pensamentos. O grande mal das grandes estruturas de pensamento é ter a pretensão de que a única verdade está posta dessa e dessa forma e não daquela. Isso porque cada pensador, mesmo quando se encontra os erros dos outros, está é formulando outros erros mais.

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