quarta-feira, 8 de junho de 2016

Brasileiro, Sem Malandragem, Um Povo Trabalhador

Uma das alegorias que procuram representar os brasileiros, criadas nesses quinhentos anos de história é a que dá conta de que o povo é indolente, criativo e malandro. A arte popular está cheia de canções, de histórias e de todo o tipo de anedotas que falam do Malandro, do Jeca, do Pedro Malazarte ou do Zé Pelintra, como é representado na Umbanda, entre outras personagens. Mas não só a cultura popular retratou o herói brasileiro como aquele que trapaceia sempre que pode. O erudito, Mario de Andrade, na tentativa de criar uma roupagem para a cultura brasileira, em 1928 publicou o seu Macunaíma, “o herói sem caráter”. Ou, Chico Buarque de Holanda, que em 1978 teve ideia de adaptar os clássicos, Ópera dos Mendigos, de John Gay, e A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, escrevendo a sua Ópera do Malandro, um musical que poderia se passar em qualquer favela brasileira. Quando os Estados Unidos quiseram se aproximar do Brasil, em 1940, assinaram uma série de acordos; entre eles, a troca de expressões artísticas: daqui para lá foi a cantora Carmem Miranda e, de lá, Walt Disney criou a personagem de um papagaio malandro, Joe Carioca, que por essas banda ficou conhecido como Zé Carioca. Um detalhe importante é que a personagem do papagaio é um eterno boa vida, desempregado e mau pagador – vive a fugir dos credores. Preocupado com essa contradição, o historiador cearense, Capistrano de Abreu, há 160 anos, já teria se expressado a respeito: “A mim preocupa o povo, durante três séculos capado e recapado, sangrado e ressangrado”. De posse dessa expressão, o professor catarinense, de Concórdia, Helcion Ribeiro, deu o nome ao seu livro que expunha um estudo sobre o povo e a cultura do País: Identidade do Brasileiro; Capado, Sangrado e Festeiro. Parece que a ideia de malandro trapaceiro e de vadio é muito mais uma arma de controle e dominação por parte dos “donos do poder”: se o indivíduo não progrediu, isso se deve a preguiça, ao desleixo e por querer dar sempre um jeitinho em tudo. E isso, mesmo que a maioria do povo trabalhe muito e a vida toda, more longe e tenha que se deslocar em longas distancias para o trabalho, pedalando sua bicicleta, pendurado nos trens, nos ônibus ou nos metrôs.

Um comentário:

  1. É complicado esse rótulo popular de malandro. As lembranças da infância ingênua, marcadas pelas vigarices do personagem Zé Carioca. Existe um simbolismo arquétipo de malandragem no inconsciente coletivo brasileiro. O povo brasileiro é trabalhador, só quem aqui vive sabe das dificuldades que enfrentam todos os dias. Só a educação e à aceitação de que somos Brasileiros pode acabar com essa imagem ultrajante que carregamos de nós mesmos.

    ResponderExcluir