quarta-feira, 29 de junho de 2016

O Humano e a Percepção de Si

A filosofia do século 20 se caracterizou pelo surgimento – ou avanço – de uma nova maneira de pensar: agora a preocupação não seria mais com os grandes esquemas filosóficos (criticismo, dialética ou materialismo), mas a própria existência dos seres que pensam. Ou seja: aquele que olha ao seu redor observa que tudo existe e percebe que alguns são seres vivos e outros não, alguns são animais e outros vegetais, ou minerais. Então, a pergunta impertinente é: porque tudo existe, pois - já que se algo tudo pode existir - tudo poderia não existir. Mas as coisas existem e entre esses seres que existem encontram-se os humanos, aqueles que reconhecem suas próprias existências, percebem-se como seres finitos e se angustiam diante da fatalidade da morte; quer dizer: o homem se percebe como alguém que teve uma origem e, portanto, terá um fim. E é essa percepção da existência de tudo que está a sua volta e de si próprio que pode ser chamada de consciência, ou ainda: um saber que vem acompanhado de um segundo, o saber que sabe. Isso significa que o humano percebe a existência do cachorro, tanto quanto o cachorro percebe a do humano e, assim, podem viver os dois, por todas as suas existências; um sabe quem é o outro e demonstra alegria quando se encontram. A diferença é que o cachorro não sabe que sabe disso, mas o humano sabe que aquele é o cachorro e sabe que sabe disso. Ou seja: o homem tem a condição de perceber a si próprio e ao mundo a sua volta. Assim, na percepção sua dos fenômenos a sua volta tenta aprender o máximo possível como forma de dominar de tirar proveito de tudo: controla o fogo, derrete os metais, planta os campos, talha as pedras e constrói pontes e palácios. Entretanto, esse homem se frustra pois, na percepção de si, ele sente as suas limitações e se angustia; e pior que isso, conhece também as suas dores físicas e as próprias dores da alma (o ódio, os amores e as desilusões). Solitário no mundo, se esse ser que reconhece as suas próprias dores, os seus próprios medos e frustrações, mas não reconhece, com a mesma intensidade, as dores dos seus iguais, daquele que o toca e o acaricia, de modo que as suas dores são sempre maiores que as dores dos outros, os seus sofrimentos sempre maiores que de todos os outros. Acontece que as existências dos humanos são marcadas pelas constantes reconstruções de seus próprios mundos, intransponíveis, inacessíveis, só seus.

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