quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Engajamento Político

Quando se fala em engajamento, de imediato se pensa em intelectuais orgânicos defendendo politicamente idéias, não só de observação e interpretação do mundo, mas a partir de ações transformadoras. O que não se fala é que aqueles que não têm consciência das suas ações no mundo também o transformam, também estão engajados em um pensamento político e defendem suas opiniões, mesmo sem a menor noção do que está dizendo ou fazendo. Assim como os cavalos, os cachorros e os porcos, também as pessoas agem no mundo, comem, bebem, defecam, dormem e andam; podem devastar áreas inteiras do planeta se não encontrarem o seu predador natural. A diferença é que os humanos construíram uma maneira de usar o cérebro que a chamam de consciência (com saber) de sua existência; com isso, sabem que existem e sabem que sabem. Acontece que não há um limite definidor para essa consciência, o que significa que as pessoas podem ter mais ou menos consciência; alguns podem concatenar mais e mais pontos, interligando-os e aumentando a sua compreensão do mundo. Algumas pessoas percebem mais suas vidas ligadas, diretamente, com o restante dos objetos físicos que estão ao seu redor e, outras, além disso, percebem também as suas vidas ligadas diretamente a um desenrolar de tramas políticas e econômicas. No entanto, certas pessoas se percebem no mundo, mas não conseguem relacionar suas existências com as arvores, com as pedras, com o lixo, com a água; ou não conseguem relacionar seus proventos, seus ganhos mensais, e seu acesso a bens culturais, com o crescimento das grandes corporações, com o enriquecimento de alguns e com as relações entre nações. Ora, todos estão engajados e transformam o mundo em que vivem. A diferença é que alguns reproduzem, e as põem em prática, noções que não são suas, são reproduções de ideias exógenas. Não se pode dizer que a pessoa que não tem noção do que acontece no mundo a sua volta não é engajada; porque ela acredita no que afirma e pensa que aquilo que defende é noção originalmente sua e, por essa razão, ajuda a manter os encaminhamentos que ocorrem no mundo física e politicamente. O interessante é que qualquer tentativa de se mostrar um novo encaminhamento, um novo olhar, é rechaçada como uma interferência na “sua individualidade”, na “sua própria concepção de mundo”. Ela é engajada, mas seu engajamento é a reprodução sempre das mesmas condições a que se chegou até então; o seu engajamento é para que tudo assim continue. E isso, mesmo que, por fascinação, pronuncie um discurso de mudanças.

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