segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Humanos, Existência e Conflitos

Naturalmente as pessoas falam umas com as outras, trabalham, estudam, comem, bebem, dormem e, ao fazerem isso, se relacionam, fazem história. Cada pessoa carrega dentro de si um mundo de memórias, saudades, valores, frustrações e certezas e, ao se relacionar com outra pessoa, é comum que entre em conflito; uma situação que se foge sempre que se pode. Mas, se o conflito mexe com as estruturas dos relacionamentos, derruba os preconceitos, as verdades estabelecidas, os confortos e altera os padrões. Acontece que os humanos, e todas as coisas ao seu redor, navegam através dos tempos, seguindo do nascimento para a morte, movimentando os acontecimentos; hoje se sabe que tudo o que hoje é um dia não foi e tudo o que é um dia não mais será. Heráclito de Éfeso, há 2.400 anos afirmava que ninguém pode tomar banho no mesmo rio duas vezes já que na segunda as mesmas águas teriam passado e o rio já seria outro; seus discípulos afirmavam que não se pode tomar banho nem no rio que vê, pois esse muda a todo instante. Mas o pensamento de Heráclito não teve muito efeito sobre os pensadores de sua época; mais tarde foi Hegel que, após ler Kant, o resgatou para afirmar que sim, tudo está em transformação e que o homem é filho do seu tempo, de sua história. Dessa forma, tudo o que compõem o universo não pode ser tratado como algo que é, mas que está, pois em algum momento deixará de ser. O que restava era pensar: o que impulsiona essa história? O que movimenta esse caminho de uma coisa para outra? Foi Hegel quem afirmou que são os conflitos que movimentam a história, o que chamou de dialética: o que se pensa no momento nada mais é que uma tese, que inevitavelmente vai se confrontar com uma antítese e que do choque das duas, formará uma síntese. A síntese nada mais é que outra tese, que por sua vez vai entrar em conflito com outra antítese e gerará nova síntese e assim por diante. Dessa forma o conflito, por mais dissabores que possa carregar, não é algo a ser evitado, mas entendido como motor de transformação, como algo que alimenta novos horizontes, novos padrões. Portanto, viver é caminhar da juventude para a velhice, do nascimento para a morte, e essa caminhada é feita por conflitos, como combustível da existência.

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