sexta-feira, 21 de abril de 2017

Averrois, Deus e a Razão

O pensamento filosófico, pela tradição, tem origem na Grécia antiga (em geral exclui-se indianos e chineses), mas um espanhol de origem árabe, de religião muçulmana, não pode ficar de fora, Abu-al-Walib Mohammed ou, afrancesadamente, Averrois. Ele nasceu, viveu e morreu na península ibérica, em Córdoba, durante o período que a região foi tomada pelos mouros invasores que entraram pelo norte da África. Averrois não pode ficar de fora da história do pensamento ocidental porque foi por ele que os medievais tiveram os primeiros contatos com o pensamento e análises sobre o grego antigo, Aristóteles. Enquanto os europeus conheciam apenas Platão, via Santo Agostinho, os árabes, e no caso, Averrois, além de outros, já haviam estudado e escrito vários textos levando em conta o pensamento aristotélico. Entre a Espanha e o restante da Europa, os montes Pirineus são uma barreira natural que dificultava o acesso dos intelectuais das universidades de Paris, de Colônia e de Bolonha aos textos de Aristóteles; quando conseguiram com Averrois, perceberam outra barreira, tudo estava escrito em Árabe. Mesmo assim, com traduções esporádicas, foi-se, aos poucos, adentrando ao pensamento dos antigos. Nesse caso, é preciso dizer que Averrois foi o primeiro a relacionar a noção de "motor inicial" de Aristóteles com Deus, no caso Al-Lá e, assim, afirmava que é possível conhecer a verdade através da razão. Para ele, o homem foi feito por Deus, logo a razão foi feita por Deus e, se esse é onisciente, a razão humana pode conhecer todas as verdades. Para isso, basta saber usá-la adequadamente. Nesse caso, conhecer a verdade é, necessariamente, conhecer a vontade de Deus. E, ainda, com a razão é possível perceber a existência e a unicidade de Deus, assim como é possível se obter capacidade de objetar as interposições dos ateus. Mas, para isso, a capacidade de raciocínio é dividida em intelecto potencial e intelecto ativo: os humanos são dotados de intelecto potencialmente conhecedores, mas dependem em cada um a ação intelectiva. Por isso, essa ação intelectiva precisa ser mediada pela religião. Aliás, filosofia e religião precisam estar interligadas, já que procuram a verdade: se a verdade é Deus, ambas podem encontrá-la. É comum nas representações de Santo Tomás de Aquino, o maior intérprete de Aristóteles de todos os tempos, aparecer - em alguma parte - a figura de Averrois, já que foi esse o grande responsável por introduzir a filosofia aristotélico na Europa medieval e, conseqüentemente, no próprio Tomas de Aquino.

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