segunda-feira, 17 de abril de 2017

Corrupção: Uma Sociedade Doente

Já se disse que a corrupção, a quebra de alguma peça componente de um sistema, é algo inerente a qualquer estrutura organizacional; em outras palavras: corrupção sempre houve e sempre haverá. Mas se pensá-la como desvio de verba, como venda de favores, de influências ou de oportunidades, tudo fica muito complexo e necessita uma análise adequada; se for pensada dentro da criatividade brasileira fica ainda mais difícil de desvendar o funcionamento. Hoje, no Brasil, se fala de corrupção e se alterna entre propina e caixa dois; claro que quando se faz isso já se tomou um posicionamento em afirmar que uma coisa é sinônima da outra. Alguns jornalistas preservam os seus dizendo que tal indivíduo realizou caixa dois e, calcando contra adversários, dizem esses receberam propina. Sim, dependendo do anglo e se baseando na legislação, caixa dois é propina. No entanto, o que deve ser colocado no meio do debate é que receber contribuição de empresas para campanha eleitoral, e não contabilizá-las, é uma atitude institucionalizada por muitos anos na política brasileira. Institucionalizada porque todos sempre souberam: a imprensa, as universidades, os especialistas, o ministério público e o judiciário - aliás, esses dois últimos fiscalizaram (ou não) as campanhas e deram os devidos diplomas aos eleitos. Fica estranho a imprensa e o ministério público/judiciário se espantarem, como se nunca soubessem de nada, como se seus próprios setores nunca fossem acusados dos mesmos crimes (SILVA, Felipe Gonçalves org. Manual de Sociologia Jurídica - Saraiva, p272). É preciso combater a corrupção no País, mas sem hipocrisia. Perguntas: até hoje nenhuma igreja foi acusada de angariar dinheiro indevido dos seus fiéis? Nenhuma universidade desviou verbas das suas funções? Ninguém, até hoje, vendeu questões do ENEM ou do vestibular? Nenhum jornalista recebeu presentes, dinheiro vivo, ou viagens, para favorecer certas personalidades? Nenhum funcionário público vendeu favores? Ninguém mentiu para o Imposto de Renda, ou outro imposto qualquer? Nenhum empresário mentiu sobre a durabilidade ou qualidade de seus produtos? Toda falcatrua é mal vinda; mas têm que ser todas, mesmo aquelas que estão legalizadas, que são feitas porque os furos da Lei permitem. Os problemas de uma sociedade nunca são políticos, mas sempre culturais. É preciso que cada brasileiro olhe para dentro de si e veja suas próprias corrupções, suas ações que prejudicam o andamento da sociedade, mesmo que sejam legais: auxilio creche, auxílio moradia, auxílio paletó, bolsas para curso no exterior - mesmo não havendo exigência para o desempenho em tal setor e quando milhões de pessoas não têm esse privilégio. A corrupção dos políticos é uma minúscula parte de um todo social doente e que precisa se auto-analisar.

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