quarta-feira, 5 de abril de 2017
Urbanidade e Selvageria
O que marcou o início das civilizações foram os surgimentos dos primeiros assentamentos nas margens dos rios e a formação dos núcleos urbanos: as primeiras cidades. A partir daí tem-se a descoberta do metal, o surgimento da escrita, da moeda e, conseqüentemente, do comércio, o que possibilitou as relações entre as cidades, os conflitos, as invasões e as trocas de experiências.
Ao longo dos tempos, os aglomerados urbanos, foram aumentando continuamente com as levas de agricultores que, cada vez mais, deixavam seus afazeres rurais para exercerem funções de artesãos e de soldados nas cidades e vilarejos; raramente chegavam a ocupar cargos públicos ou profissões liberais. O surgimento dos grandes núcleos populacionais mudou por completo os aspectos gerais da vida humana, agora regrada - nos primeiros tempos por um pensamento teocrático – mas, ao passar dos séculos - por uma legitimidade racionalista.
Aliás, racionalidade cada vez mais necessária para manter a organicidade desses aglomerados, de pessoas vivendo tão próximas, com funções tão diversas, com necessidades tão básicas, como o saneamento, por exemplo; o que levou ao surgimento de inúmeras e estranhas doenças. Somente no final do Império Romano, no século V e VI, que famílias abastadas deixaram as cidades para se fixarem nos campos e se fecharem em castelos com seus servos, fora disso o movimento tem sido sempre do campo para os núcleos urbanos que crescem continuamente ao longo da história.
As maiores cidades da atualidade possuem populações contadas aos milhões e isso aumentou aos seus governantes preocupações inevitáveis como a mobilidade, a segurança, o lazer, a educação, a saúde etc. Esses grandes aglomerados acabaram dando origem aos subgrupos humanos formados por profissionais de certas áreas, por moradores de condomínios fechados, de bairros ou vilas, por freqüentadores de grandes clubes de lazer da sociedade, bem como dos excluídos dos grandes grupos.
Nos grandes debates a urbanidade sempre foi proposta como um contraponto à selvageria, pensando a vida selvagem como a ausência de normas, de uma eterna guerra de todos contra todos. No entanto, foi no seio das grandes cidades que se formaram as chamadas guerras urbanas, travadas entre grupos de traficantes, ou de salteadores, e entre esses e as forças do estado. A urbanidade, pensada como elevação humana, de regramento, como um grande contrato que um dia se firmou, começa a mostrar que a vida digna talvez seja mesmo aquilo o que em um momento se chamou de selvageria.
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