segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Amigos e Inimigos: Síndrome de Estocolmo

Certas amizades são duradouras, algumas para a vida toda, outras por um curto período e existem as inimizades que também podem ser duradouras ou não. Isso porque as pessoas se relacionam o tempo inteiro, se amam e se odeiam. E, nessa complexidade de relacionamentos, parece natural que se aja contra alguns princípios éticos e religiosos: amamos os nossos amigos e odiamos os nossos inimigos, queremos o bem para quem nos quer o bem e excluímos, ou desejamos o mal, para quem nos quer o mal.
No entanto, essa relação de amor e ódio é carregada de meandros. Há aquele que se compadeça com o que outrora fora o seu algoz ou, de acordo com princípios cristãos, é possível que se ame o inimigo. E essa dicotomia fica explícita quando se analisa o distúrbio psíquico que ficou conhecido como Síndrome de Estocolmo (Stockholmssyndromet): a afeição que se desenvolve entre o agredido e o agressor.
As condições, e os motivos, que levam alguém a se afeiçoar ao agressor é objeto de estudo por psicólogos, psiquiatras e sociólogos como uma inter-relação difícil de destrinchar. Afinal, a relação pode ir muito além de uma simples amizade e chegar ao nível de cumplicidade ampla e mesmo a intimidade sexual. Parece que se entra em uma zona erógena em que se ama o perigo, se deseja o estranho, o errado. 
Acontece que os dois indivíduos dessa relação se completam: de um lado o medo, a carência afetiva, a necessidade de segurança e a falta de amor próprio e, de outro, a necessidade para o comando, a prepotência e a vontade de poder. Mas esse "amar o inimigo" que se estabelece como a Síndrome de Estocolmo não é o mesmo que se prega no pensamento cristão, de amar a todos mesmo aqueles que nos fizeram algum mal.
Enquanto o pensamento cristão prega um despojar-se por inteiro no resgate daquele que por hora se apresenta como inimigo, nesse outro caso, o oprimido experimenta uma confusão mental e vê aquele que os outros diriam ser "inimigo" como alguém a ser protegido. Acontece que o amor e o ódio são as duas faces de uma mesma moeda, frutos de uma mesma passionalidade e o seu consequente obscurecimento da razão.
Mas o amor está para o bem como o ódio está para o mal. Se o ódio e o amor são conceitos bem definidos como um fenômenos frutos de impulsos provocados por uma força oriunda das correntes sanguíneos, da distribuição hormonal, do sistema nervoso, portanto concreto, o bem e o mal são conceitos a serem definidos, por muitos, relativizados. Nesse caso, se é possível se afeiçoar ao inimigo, há de se questionar o conceito de inimigo; talvez esse nunca o fora.

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