segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Autoritarismo e Corpo Burocrático

É comum que se estabeleça uma relação muito próxima entre os governos totalitários e a figura de um determinado príncipe, imperador ou presidente; a história retrata fatos relevantes dos monarcas semideuses da antiguidade, da sequência dos césares romanos, ou de príncipes alemães e italianos dos séculos 15, 16 e 17, bem como os ditadores do século 20. Mas aí reside o grande erro: imputar os fatos históricos vividos por um povo a apenas um indivíduo, mesmo que esse esteja ao centro do sistema de decisões.
Nem anjos nem demônios, nem heróis nem vilões: todas as pessoas, mesmo aquelas que vivem ao centro de um sistema de poder, não são as únicas responsáveis pela sequência de fatos que se sucedem. Todos os grandes governantes só conseguiram dirigir os destinos de uma população porque tiveram um povo subserviente o suficiente para aceitar as coisas do jeito que estavam, ou porque uma elite privilegiada os cercou e possibilitou que tudo fosse possível.
Nenhum monarca da antiguidade governou sozinho por mais que os textos bíblicos e as pesquisas históricas falem em faraós do Egito antigo, em Nabucodonossor ou em Salomão. Nenhum deles governou sozinho por mais poder que tivessem; dessa forma não se pode imputar apenas à figura de um Hitler ou a de um Mussolini os feitos de uma grande guerra ou o que dela demandou. Todos eles tiveram um corpo de funcionários, donos de um saber burocrático, que agiu o tempo inteiro em nome de uma verdade que se queria e se alimentava.
Certamente que a relação existente entre os membros de um corpo funcional, e que gravita em torno de um governante autoritário, é baseada em dois pontos basicamente: no medo e, do medo, a desconfiança, por um lado, e na obtenção de privilégios por outro. É esse corpo burocrático que faz o controle da saúde da população, que faz o controle da educação, que faz o controle da segurança etc. Não pode haver um sistema totalitário que não tenha a seu serviço uma polícia, um exército, um sistema judiciário, um conselho de ministro etc.
Algumas vezes esse corpo diretivo é tão forte e eficiente naquilo que se propõem que a figura do governante passa a ser até decorativa, sendo foçado a agir conforme o sistema lhe impõem. Outras vezes sim, a figura do governante é altamente impositiva e até cruel, mas nenhum deles poderia ser o ditador que é ou foi, ninguém poderia ser o príncipe ou o césar que foi se não tivesse ao seu redor uma estrutura que lhe amparasse.

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