quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Os Tempos Atuais e o Mundo de Alice

Nesses tempos estranhos, sem limites, encerrados em descaminhos, em que o fanatismo desprovido de motivo dá o tom da história, talvez só faça sentido na releitura de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Não que haja algo de maravilhoso nos tempos recentes, como expressa o título publicado no Brasil (em Inglês foi Alice's Adventures Underground, ou As Aventuras de Alice Embaixo da Terra), mas pelo mundo descabido, contrário de tudo que já fora mostrado e entendido, sem ética, sem lógica, sem sentido.
Quando o estado moderno,fruto do Iluminismo, cambaleia moribundo, tropeçando nas próprias pernas e, mesmo assim, abutres burocratas beliscam o que ainda sobra da carcaça dos poderes e possibilidades de ação, percebe-se que tudo a volta está mais para um mundo de Alice. E aí, um neo-relativismo despe a sociedade de linhas de ação e sentido para seguir em frente.
Os tempos atuais não têm nada de maravilhoso porque é muito mais um submundo onde pessoas caminham sem saber para onde vão e brigam por algo que não entendem e defendem aquilo que pode ser contrário a sua própria condição social. Tempos em que as descobertas científicas são negadas e os pensamentos que já foram deixados há séculos retornam como verdades irretocáveis.
Além do que o fanatismo toma conta das vontades humanas. Mas não um fanatismo em que se segue uma posição imperiosa, dotada de sentido por aqueles que a defendem. Pois mesmo os grandes ditadores, por mais execrados que possam ser por parte da história, seus seguidores vêm nos regimes, nos seus senhores e nas suas ideias sentido e por eles lutavam, ou lutam.
No entanto, o que se percebe nas mídias sociais, nesses tempos estranhos, é um fanatismo do nada, é uma luta por aquilo que não se domina, por aquilo que não se sabe do que está falando. É a preponderância do nada, a defesa de um vazio, porque o econômico já não explica mais e muito menos a cultura ou a história; talvez o mais sensato seja pensar que as explicações - se é que existem - ficam por conta da Política, da Psiquiatria ou da Sexologia.
Pensadores da dialética sempre enfatizaram que o conflito é o motor da história, que é a partir da crise que se dá o salto para a mudança, talvez seja esse um sentido, apesar de que o que se vive não é confronto de posições (tese versus antítese), mas o império do nada, do vazio. Esse mundo de Alice não é nada maravilhoso, mas muito mais uma caverna em que se toma a sombra por real e o real por loucura.

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