sexta-feira, 6 de maio de 2016

Deuses, Semideuses e o Culto a Personalidade

Na Antiguidade os povos cultuavam heróis, deuses e semideuses, seres que moravam em outra dimensão; ou, então, os governantes, os faraós, os césares, os gladiadores e os profetas se posicionavam como entidades elevadas, que faziam a ligação entre o mundo dos humanos e o mundo dos deuses. Os tempos passaram, o ocidente passou por toda a Idade Média ocidental e chegou ao final da era moderna sem muitas diferenças, grandes cantores, atores e escritores são ovacionados, chamados de astros e estrelas, como semideuses a serem celebrados. Alguns homens da esfera pública vivem a espera das mesmas glórias, querendo que a multidão grite seus nomes, que aplaudam suas presenças, nos estádios, nos restaurantes e que os telejornais façam destaques das suas façanhas. Alguns precisam disso para as suas manutenções nos cargos, ou nos seus afazeres, dependem do voto e, conseqüentemente, dependem das suas exposições. Enfim, são pessoas que não se encontram como seres humanos, que não se acham pessoas comuns – de carne e osso - e buscam, desenfreadamente, três elementos que podem estar interligados ou separados: poder, dinheiro e glória. Alguns vivem mesmo para esse último item, a glória, e tudo aquilo que dela demanda, o reconhecimento, os aplausos e os confetes. O dramaturgo alemão, Bertold Brecht, na peça teatral Galileu Galilei, que trata do julgamento do intelectual italiano pelo Tribunal da Santa Inquisição, mostrou esse conflito humano: transformar, ou não, um indivíduo em herói. A personagem Andreas, ao perceber que Galileu não cede aos seus argumentos, grita: “Pobre do povo que não tem herói!” No que Galileu, sabiamente, rebate: “Não, Andreas! Pobre do povo que precisa de herói!” O homem livre, que reconhece sua condição humana, tem noção da sua vida em sociedade, das dificuldades e dos entraves, mas também sabe que sua liberdade necessita sempre do outro que caminha a seu lado. Esse, segue uma liderança devido a complexidade dos grupos humanos, mas tem a consciência da importância de suas próprias ações, não só para si, mas para a sociedade. Um povo que projeta essa condição heróica – quase divina - em um alguém, que cultua uma determinada personalidade, é um povo que não conhece sua própria história, que sua existência não faz sentido. Cada homem, cada mulher, com consciência nos seus afazeres diários, produzem os bens necessários para a existência e, por isso, conduzem a sociedade; são eles que levam a história na mão, são eles os seus próprios heróis.

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