quarta-feira, 11 de maio de 2016

Dogma, Verdade e Conhecimento

Os termos usados por uma dada área do conhecimento podem, em algum momento, migrar para outra e serem usados de forma diferente, mas correlacionada. Isso acontece quando uma ciência necessita expressar uma nova categoria de conhecimento, um novo conceito que defina certo objeto de estudo, bem como termos específicos. Assim foi com a noção de lei que migrou do Direito para várias ciências com algo que define a verdade inequívoca de uma comprovação científica. Com dogma não foi diferente; o que outrora fora uma expressão própria da Teologia, designando uma crença, ou uma determinada doutrina estabelecida por uma religião, ou uma ideologia, considerada um ponto fundamental, migrou para outras áreas como aquilo que não deve acontecer. Nos dias de hoje é inaceitável a existência de dogmas nas ciências ou na Filosofia, já que não se aceita qualquer noção de verdade que não passe pelo crivo metódico, apurado, da razão. Dogma deriva do grego δόγμα significando aquilo que aparenta, a opinião, ou a crença - que por sua vez - deriva do verbo δοκέω (dokeo) e que significa supor, pensar ou imaginar. Atualmente o termo é usado pejorativamente por pessoas de orientações religiosas diferentes, pelos agnósticos e pelos ateus para se referirem a qualquer crença baseada, exclusivamente, na fé. Às vezes, é aplicada também à obediência a ditames políticos e às convicções de um modo geral. Na Filosofia o dogma pode aparecer como uma penumbra que cobre a intuição, sendo mostrada como nuvem, como véu ou qualquer coisa que cubra o real. Quando Imanuel Kant leu David Hume percebeu a importância do empirismo na formação do conhecimento, associando de imediato ao idealismo alemão, e afirmou que nesse instante estaria despertando do “sono dogmático”. Nesse caso, quando se percebe que aquele conhecimento que detém é um dogma, abdica-se das pré-noções e toma-se outro caminho. Os humanos, ao serem dotados de consciência, percebem-se no mundo e buscam conhecê-lo. Não é certo e não é justo que se feche em dogmas, aceitando determinados parâmetros pensados por ideólogos, políticos ou sacerdotes, sem poder fazer o exercício natural e humano da reflexão. Que se deixem os dogmas para a crença, como uma expressão íntima com o ser que se elegeu como divino, mas que não se deixem de se estarrecer diante da grandiosidade do universo e, pasmando-se, exerçam o maior dos atributos humanos: o de tentar entender o sentido de tudo isso.

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