quarta-feira, 4 de maio de 2016

Traição

As pessoas, nos seus relacionamentos sociais, amorosos, econômicos e políticos, precisam fazer acordos, por isso assinam papéis - e os protocolam em cartórios, ou prometem, verbalmente, o cumprimento da palavra empenhada. Mesmo com toda a demonstração de boa vontade, a observação de testemunhas e o protocolo em cartórios, não há segurança do cumprimento da palavra dada. Uma traição, o não cumprimento do acordo, ou a realização de acordos secundários, acertados por trás das cortinas, podem acontecer a qualquer momento. Uma peça teatral escrita no Rio de Janeiro, na década de 80, por Marcos Caruso, Trair e Coçar é Só Começar, sugere que todos são propensos a se coçarem, assim como todos são propensos a traírem. E que a traição, assim como a coceira, é só começar. Acontece que a peça é uma comédia e esse gênero teatral se propõe rir das desgraças humanas; por isso, por mais que a traição seja algo trágico nas relações, podem também provocar sonoras gargalhadas. A relação social, que se chama traição, nada mais é que o rompimento, ou a violação, da presunção do contrato social em que se acerta uma verdade, a confiança, e que produz conflitos morais e psicológicos entre os relacionamentos individuais, entre organizações sociais ou entre indivíduos e organizações. Pode-se também considerar como uma ruptura completa da decisão anteriormente tomada ou das normas presumidas ou acertadas. A traição tem um tempo de existência, com começo, meio e fim. Num primeiro momento o traidor vive dois papéis, um com aquele com o qual fez o primeiro acordo e, outro, junto ao segundo, com quem acordou para traição; num segundo momento, vem a revelação e, por fim, a cisão final. O problema é que o traidor tanto pode trair o primeiro acordo, quanto o segundo – tudo depende do conteúdo da traição, das últimas ocorrências enquanto trai, ou da sua própria insegurança. Não que alguém tenha característica de traidor. Não ha um biótipo de traidor, uma característica física que se posso identificar como tal, mas são pessoas que em um momento se deu credibilidade e que traíram a confiança: os parceiros conjugais, o vendedor e o comprador, o presidente e o vice etc. A Psicologia identifica no traidor uma profunda insegurança psíquica, um descontentamento com o próprio papel que desempenha ou até com aquilo que detém e que se traduz num descontrole emocional.

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