segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
A Caridade
A palavra caridade é um daqueles termos complexos, com conotações diversas e usos mais estranhos possíveis, mas o seu entendimento diz muito sobre a cultura ocidental cristã dos tempos atuais. Não que nos dias de hoje as pessoas tenham se tornado mais caridosas, amorosas, ou algo que o valha, talvez seja exatamente o contrario, mas, diante da complexidade do termo, e calcado por valores cristãos, tem-se muito do pensamento contemporâneo.
O termo derivado do Latim, caritas que quer dizer afeto ou amor e que, por sua vez, se originou no Grego, chàris que quer dizer graça. A definição coloquial, comum nos dicionários, estabelece caridade como um sentimento, ou uma ação benevolente, de ajuda a alguém sem a necessidade de recompensa.
É aí que reside o engano no entendimento do conceito e, conseqüentemente, do pensamento ocidental: tudo que se faz tem de ter um sentido, ou um motivo. Por mais que esse conceito seja formado a partir de valores cristãos de despojamento e dedicação ao outro, sempre que alguém faz algo o faz esperando um retorno. As pessoas fazem esperando algo em troca, mas não percebem que o fazem, tendo em vista não entenderem como retorno, ou troca, algo que esperam ganhar como um regozijo, um conforto mental, por ter feito algo que aprendeu como bom.
Em algumas épocas do ano grupos de senhoras se mobilizam na arrecadação de brinquedos para crianças carentes, grupos de jovens religiosos se unem na visita aos áxilos de velhos, cantando para eles ou levando presentes. Alguns preferem visitar presídios ou comunidades carentes, para quem levam objetos de necessidades básicas e cesta básica.
Fazem isso e falam uns para os outros que assim estão amenizando “a dor do irmão”; ao terminarem expressam um sorriso de contentamento e vontade de fazer ainda mais. Mas fazem isso para amenizar a própria dor de viverem em um mundo desigual, muitas vezes essa é a dor de ter tido atitudes políticas que faz proliferar essas próprias mazelas.
Para que a caridade pudesse existir na sua essência, teria que ser um ato desinteressado, sem regozijo, sem necessidade de um retorno seja ele do tipo que for; ou, mesmo que essa ação traga contrariedades e sofrimento para quem pratica. Esse amor, essa caridade, essa graça não pode existir na troca, no conforto de quem pratica, mas na luta constante, em todas as ações, para construir um mundo diferente desse que precisa de ajuda, de esmola.
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A caridade é um dom de poucos essa mensagem é muito linda e própria
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