quarta-feira, 21 de março de 2018

Da Tristeza

Assim como preto e o branco, o certo e o errado, a noite e o dia, o bem e o mal, assim como as demais inúmeras contrariedades de opostos, somam-se a esses conceitos a felicidade e a tristeza. As pessoas, em geral calam-se sobre essa última como uma condição a ser afugentada para o mais longe possível, mas ela permanece ali, indubitavelmente ela está ali, como algo inerente à própria existência.
Certamente que a manutenção e aumento da população da espécie busca o conforto, a abundância e a felicidade, mas a história não caminha pela felicidade das pessoas, pelo bem-estar de cada um. Se eu estou bem, feliz com aqueles que estão ao meu redor, sem qualquer contrariedade, não haverá da minha parte porque entrar em conflito com os que me cercam, não farei uma revolução, ou não estarei disposto a realizar qualquer tipo de transformação em minha vida ou na de outros.
Portanto, mesmo que se busquem a felicidade como a tônica da vida, a tristeza sempre se fará presente e se fará necessária como condutora dos destinos das pessoas, alterando o que está dado, saindo sempre de um ponto para seguir em direção a outro. É na tristeza que o homem, esse ser pensante, encontra-se consigo mesmo, revê suas ações, dimensiona e censura suas práticas, pensa nos avanços possíveis e nos regressos necessários.
Já no deleite de uma felicidade, tudo é ao contrário, não se abre espaço para reflexão existencial. Aquele que  encontra-se em estado de regozijo é entorpecido por uma corrente de hormônios que se espalham pelo corpo e, extasiado, esse ser existirá em uma catarse de momento, ou seja: sem qualquer capacidade de análise de pretérito ou futuro. Portanto, se viver é construir-se socialmente, se é pensar a sua própria vida junto aos demais, se viver é fazer sua história, agora inerte para a existência, esse indivíduo permanece jaz desfalecido.
Nesse caso, aquilo que chamam de felicidade, e a pensam apenas a partir de um estado de espírito, é muito mais que isso, é aceitação do estado de coisas que estão dadas e isso só acontece devido à carga de informações e de cultura que a pessoa carrega. A tristeza, por sua vez, é acima de tudo uma não aceitação das coisas como estão e acontece a partir de uma carga de instruções e cultura do indivíduo. Aquele que é triste, só é porque sente um impacto entre o que almeja e o que está dado pelas condições do que o cerca.

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