Uma vereadora é assassinada no Rio de Janeiro por fazer a defesa dos direitos humanos, juízes agem politicamente e criam regras como forma de aumentar os seus ganhos, jornais mostram que policiais alteram cena do crime para mostrar que mortes ocorreram como legítima defesa, deputado dorme na cadeia a noite e atua como representante do povo de dia, presidente da República é flagrado fazendo negociatas e é enquadrado pela polícia federal e populares matam com as próprias mãos uma mulher acusada bruxarias.
O espaço é pequeno, esses artigos são compostos por algo em torno de 30 linhas, e não seria possível retratar aqui toda a ordem de corrupção e negligência: desmandos com a coisa publica, "carteiradas", corporativismo etc. E pior, faz-se isso com discursos de ética, de abnegação, de seriedade e de outros conceitos da mesma natureza.
Não se está falando aqui dos tempos medievais - se é que na Idade Média existiu um povo que agisse de tal maneira. Talvez se possa pensar em algo parecido com os tempos bíblicos e também não se está pensando em Sodoma e Gomorra, mas no final dos tempos, retratado pelo apóstolo João de Samos, no livro de Apocalipse, sobre o surgimento dos quatro cavaleiros representando a peste, a fome, a morte e a guerra.
Em uma sociedade que vive a autofagia de um estado natural, de todos contra todos, em que se saqueiam os pertences do moribundo acidentado na beira da estrada sem pensar em socorro. Todos são lobos. Uma sociedade em que os quatro poderes, o legislativo, o executivo, o judiciário e o ministério público constituem quatro castas intocáveis a controlar o estado em uma queda de braço, não buscando o bem comum, mas o seu e dos seus.
E aí, acham-se os culpados, a política, a religião, a educação, a imprensa, o povo, como se esses fossem entidades concretas, separadas das pessoas comuns do dia a dia. O outro é desonesto, o outro é injusto, o outro é mentiroso e como eu não sei quem é esse outro, eu nunca mudo e tudo assim segue.
Que sociedade é essa? Seria um "mundo de Alice"? Alguém já falou que "esse povo não é sério" e já disseram que é um povo "'capado, sangrado' e festeiro". E, como cegos em tiroteio, caminha a multidão. E nessa multidão caminha alguns com visão que lhes resta, já nem almejam mais um projeto de sociedade para o amanhã, mais apenas um pouco de vida, de dignidade, de parceria, ou apenas de bom senso.
Mais um artigo grandioso, mestre!
ResponderExcluirNesta parte:
"E aí, acham-se os culpados, a política, a religião, a educação, a imprensa, o povo, como se esses fossem entidades concretas, separadas das pessoas comuns do dia a dia. O outro é desonesto, o outro é injusto, o outro é mentiroso e como eu não sei quem é esse outro, eu nunca mudo e tudo assim segue."
Lembrei-me do que o historiador Karnal fala que nós não nos colocamos como sujeitos da ação. Por isso, repetimos a máxima de usar os "outros". É sempre o outro, nunca eu. E assim a gente vai tirando a nossa responsabilidade pela mudança.
Parece que é mais doce terceirizar a responsabilidade, a corrupção, a falta de ética, o que na verdade é uma grande hipocrisia.
Essa tal "gente" de bem que se julga paladina da justiça e da moral!
A mim, dignos são, mas dignos apenas do meu asco e ojeriza!