Quando o apóstolo João, refugiado na ilha de Patmo, ao refletir sobre os modos de vida dos cristãos, escreveu em seu livro, Apocalipse, capítulo 3, versículos 15 e 16: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca".
Ou se é A, ou se é B - ou se é sim, ou se é não. O intermediário, o muro, o não querer se comprometer com um dos lados é a grande desgraça da humanidade. E é esse não querer se comprometer com um dos lados que impede o crescimento humano com espírito fraterno, de preocupação para com o outro.
Da mesma forma a posse do conhecimento: o saber e o inteiro "não saber" nunca foram os problemas, mas o saber pela metade, o muro, o saber pouco; é isso que faz o indivíduo a acreditar que sabe muito sobre o problema e põe-se ao debate e para a busca do entendimento que, então, não acontecerá.
As pessoas precisam sair dessa estranha mania dos tempos pos-moderno de não querer se indispor e se mostrar em uma ou outra cor; ficam em uma vida cinza que não se assume. Nesses tempos vive-se aquilo que Siegmunt Baumann chamou de sociedade líquida, uma maneira de ver o mundo em que as personalidades escorregam pelos dedos e as pessoas querem se moldar de acordo com o ambiente, como a água que toma a forma de qualquer recipiente. Mesmo quando dizem que querem ser diferentes, nesse querer existe uma busca para o mesmo, para o não comprometimento. E tudo se repete.
Há uma história antiga que conta a aflição de um homem que permanecia atônito sobre um muro; de um lado havia um anjo que o chamava constantemente para que descesse e ficasse junto de dele, do outro lado havia o Diabo, sem dizer nada, observava a sua indecisão. O homem não entendeu e perguntou ao diabo: "meu caro, de um lado do muro há um anjo que vive a me chamar para que eu vá para com ele e tu não me chamas, só me observas. Por que?" Após olhá-lo atentamente, o Diabo sorriu e a seguir falou: "É que o muro também é meu".
Resumo da ópera: é preciso viver plenamente, mas isso significa mostrar-se por inteiro ao mundo - mostrar um lado, uma cor, uma tendência, uma busca. E seguir por esse caminho. Todos têm um querer, todos têm uma cor, uma vontade e, livre das amarras do convencional, mostrar-se-ão em preto ou em branco, ou vermelho, ou verde. Um homem livre não fica encima do muro, acizentado.
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