A ideia de movimento contínuo, de início e fim, de vida e morte, tanto em objetos concretos quanto de figuras abstratas, símbolos e noções de verdade consagradas, gera perplexidade nas pessoas, quando não, um certo desespero. Afinal, quando se observa as pedras imóveis a noção que se tem é que elas são pedras e assim permanecem através dos tempos, da mesma forma os pensamentos religiosos, as filosofias de vida, as ideologias e todas as "verdades" construídas ao longo dos tempos. A sensação que se tem é de perenidade.
Mas as pedras um dia não foram pedras, assim como as flores um dia não foram flores e um dia não mais serão pedras e um dia não mas serão flores. Eu que agora vos escrevo, um dia não mais vos escreverei e assim obedecerei à ordem natural de todas as coisas. Acontece que a história é dinâmica e, como uma enxurrada constante, remove o que está plantado, arranca até as raízes mais profundas e traz novas sementes, novos brotos, o que faz nascerem novas plantas e assim tudo segue.
Quando olho o rio não percebo a sua dinâmica natural, mas a condição para ser rio é ter águas a passarem continuamente em direção ao mar, que irão evaporar, subir ao céu, descer novamente, procurar novo rio e assim seguir em direção ao mar. Se tudo muda, se tudo o que é depois não mais será, a preocupação fica com as afirmações categóricas, com as "verdades" únicas e inabaláveis.
A Filosofia já se debruçou muito sobre as mudanças às quais a consciência se depara e se atemoriza: Heráclito de Abdera, já afirmara no século IV aC que "ninguém pode tomar banho duas vezes no mesmo rio", já que as águas passam e o rio será sempre um outro. Friedrich Hegel, pensador alemão do século XVIII, dissera que tudo se transforma a partir do choque dos contrários no que ele chamou de lógica dialética; Karl Marx, por sua vez, afirmou que essas mudanças ocorrem sim, mas isso se dá a partir das relações sociais na luta pela produção de riquezas materiais.
Para as pessoas, de um modo geral, o maior pavor diante da possibilidade de mudanças constantes ocorre devido segurança das certezas morais. Ora, o conservadorismo e sua força reacionária, advém da percepção de que suas certezas podem não ser tão certas e que se assim for levaria-o a perda do controle, ao medo e por fim e ao cabo, ao desespero.
Mas queiramos nós ou não, tudo muda. Cada dia é um outro dia, assim como cada noite é uma nova noite. Os princípios morais de hoje, firmeza irretocável dos moralistas, um dia foram altamente revolucionários, assim como aquilo que hoje é altamente revolucionário e provoca medo e desespero, um dia será defendido pelos mais retrógrados dos moralistas. Aliás, a essência do moralismo é a incapacidade de percepção das mudanças.
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