quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Fé e Verdade

O estudo da fé, em si, não fornece condições para o seu entendimento. A fé necessita de complemento: quem a tem direciona, necessariamente, essa condição a um dado objeto. A fé precisa ser entendida como se corresse em um sulco na mente, por onde corre uma estrutura de pensamento conduzindo o indivíduo a um entendimento tal. Dessa forma, aquele que a tem, tem em uma ideologia política, em uma corrente de artística, em noções de cientificidade, bem como em noções de pensamentos teológicos e cosmogônicos. Os grandes erros nos debates dessa natureza são em pensar a fé apenas ligada a um único objeto e, esse, sob o cunho religioso, ou mítico; e, assim, se fazem as comparações entre fé e ciência, a aceitação (ou não) de certos princípios religiosos, a crença (ou não) em um ou mais deuses e assim por diante. Ora, para pensá-la é preciso levar em conta todas as condições que envolvem esse sulco, por onde percorre o pensamento do crente. Essa estrutura é diferente para cada crença: para aquele que crê no espiritismo, para aquele que crê no pentecostalismo, como é diferente para aquele que crê em uma ideologia política e/ou no rigor dos métodos científicos. Certamente que juntar ciência e teologia sempre produzirá um conjunto de dificuldades. O agente, em algum momento deverá desembarcar de uma condução, deixá-la vazia, para seguir em outra; mesmo que, ao terminar, retorne às tais convicções. Essa é uma das grandes dificuldades, despir-se de uma estrutura, de um conjunto de “verdades”, mesmo que por hora, sem deixar de lado o objeto da fé. Portanto, não basta elaborar métodos de pesquisa ou de buscas ao objeto em si, mas entender esse sulco por onde correm as noções de validade e desembocam no que se chamam de conhecimento. A outra grande dificuldade é ter esse entendimento de que o sulco por onde percorrem as suas “verdades” tem a mesma estrutura, as mesmas condições, as mesmas armações e empecilhos do canal vizinho tem com relação a outra crença, a outra fé. A não percepção desses canais, ou sulcos, ou estruturas, leva o agente a entender que suas convicções são as únicas dotadas do real: lava-o ao fundamentalismo.

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