segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Mentalidade Escravocrata

Os traços econômicos, sociais e políticos, latentes em um povo, não saem, não desgrudam de alguém por decreto, por uma manifestação ou mesmo uma revolução, uma luta armada; eles ficam impregnados nas memórias de cada um dos membros da sociedade. Durante muitas décadas, e até séculos, dominadores e dominados permanecem como antes e até arrancar isso das suas mentes leva tempo, já que aqueles que estão em vantagem tudo fazem para que desse jeito se permaneça. Assim aconteceu com o pensamento escravocrata brasileiro que não foi extinto porque a princesa Isabel promulgou a chamada Lei Áurea ou porque foram realizadas todas as manifestações abolicionistas e libertárias. A mentalidade escravista permaneceu nas mentes das pessoas e hoje é visível nas atitudes do dia a dia, nos trabalhos, nas relações de amizade e até nas expressões culturais artísticas. Muito já se disse sobre a profunda divisão social brasileira com uma distância descomunal entre os que mais possuem e os que têm pouco ou que nada têm. Já foi mostrado que essa contradição dificulta o desenvolvimento econômico já que o País depende de exportações tendo um exercito de miseráveis que poderiam ser postos a consumir e passar a um mercado consumidor auto-suficiente. O que não foi mostrado é que a maior crueldade dessa contradição está num pensamento escravocrata que permanece latente nas mentes das pessoas e agora não mais só o negro, o pardo e os índios, mas também uma parcela expressiva de bancos. O homem da casa grande não aceita que tenha uma vida mais digna – com direito de entrar nos shoppings e consumir, ou viajar de avião - àquele que veio da senzala e da pobreza dos arredores. É preciso que se diga também que muitos dos opressores não são nascidos na casa grande, apenas receberam alguns favores dos seus senhores e, na primeira oportunidade, viraram leões de chácara, capitães do mato, e passaram a oprimir os seus e hoje não são diferentes. Sim, o serviço sujo, o açoite, o marcar em ferro de outrora nunca fora feito pelos senhores, mas por aqueles que foram eleitos entre os que sofriam os desmandos e encarregados de “por a ordem”. Resumindo: se um amontoado de pessoas quiser ser pensado como sociedade, como pessoas dignas de respeito pelos outros povos é preciso primeiro que se arranquem as algemas que continuam a ferrar essa parcela considerável da população.

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