segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A Verdade e o Fim

Dentro de uma lógica cartesiana, e até pre-moderna, as premissas de uma análise política, social e artística, são estabelecidas a partir de uma sequência de "começo, meio e fim", sem se preocupar com o antes do começo, ou com o depois do fim. Talvez a origem seja um pensamento judaico-cristão em que estabelece que um ser disse, "haja" e tudo surgiu e que, no final dos tempos, esse mesmo ser voltará, fará um julgamento de tudo o que houve e findará por completo a sua própria obra.
Mas como isso é possível se nada pode surgir do nada ou, tudo tem de vir de algo; Aristoteles já ensinava isso na Grécia antiga, há 2.350 anos. E, sendo assim, faz-se necessário que se pense para além do fim e para aquém do começo: o que houve para que tudo chegasse a ser o que é? o que havia antes do começo? ou, por que o que existe, existe? Assim como se faz necessário que se pense: por que as coisas acabam? ou, o que haverá depois, quando algo acabar?
Para entender isso deve-se partir de uma noção de que todo fim leva a um novo começo, assim como todo começo leva a um novo fim e assim subsequentemente, rumo ao que Hegel chamou de absoluto, a dialética. Mas o que é isso que move tudo, faz com que as coisas acabem e ressurjam logo na frente em outra roupagem, outra ordem ou sistema? 
Aí entra o conceito de crise que nada mais é que uma série de desajustes que, inevitavelmente, leva ao fim de um sistema, mas que havendo esse fim, seguirá para um novo começo, uma nova ordem. Questionado, criticado, combatido um pensamento, ou um sistema, sofre desajustes e por um instante se desorganiza, se desestrutura, mas logo a seguir, levanta-se em um novo pensamento e se estabelece como nova verdade. 
Portanto, a crise será sempre bem-vinda como motor dessa dinâmica das existências e não haverá começo ou fim absoluto, mas apenas fim de uma etapa e começo de outra. A crise não é um mal e nem um bem, simplesmente é. Ver a crise como um mal se deve ao fato de que ela leva aos desajustes àquilo que as pessoas estão acostumadas, geram inconstâncias incômodas. 
Nesse caso, como ficam as noções de verdades? Haveriam verdades eternas, que não sofrem crises e, portanto, um fim para dar lugar a um novo conceito? Mas não há verdades absolutas, todas sucumbem, todas obedecem a um propósito e a um tempo. Mesmo a cartesiana certeza da existência a partir do ser pensante, não é absoluta, pois é apenas uma noção daquele que pensa; com a morte a certeza desse ser pensante deixará de existir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário