segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Ainda Medieval

O homem moderno sentiu-se superior ao de todas as outras épocas, se viu renascendo para uma cultura superior. Novo. Acreditou que atingira uma racionalidade como nunca antes os humanos teriam alcançado e até pensou o seu momento como o da era das luzes. E foi nesse espírito de superioridade que realizou os grandes eventos, marcados na história como a Reforma Religiosa, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, a Primeira e a Segunda Guerra; fatos que alteraram substancialmente a face do Planeta, mas que não conseguiram alterar a própria essência da época. Não alterou a essência porque se sustenta mantendo as mesmas bases trazidas da Idade Média. Mudaram-se apenas as características externas, os nomes, os papéis e as alegorias, de modo que se poderia falar em dois momentos como frente e verso, os dois lados de uma única moeda. O mesmo, exposto por outro linguajar. Ora, a Idade Média foi um período contado em mil anos, formador do que se diz hoje, cultura ocidental cristã e, cuja as bases, perpetuam a longo da modernidade. Quando, na Idade Média, se queria saber a verdade a pergunta se faria ao sacerdote, o homem da Igreja, aquele cuja as certezas eram absolutas; na Idade Moderna a pergunta passou a ser dirigida ao cientista, também agora o dono da certeza; ou seja: só mudou o lado, mas a crença de que alguém pode se apoderar da verdade continua. E mais, no período medieval organizaram-se as congregações religiosas: os agostinianos, os beneditinos, os franciscanos etc., na modernidade organizaram-se as ciências nas universidades: a biologia, a economia, o direito etc., mas todos ainda acreditam que a sua congregação é a única que salva. Até mesmo o poder absoluto dos senhores medievais foi agora dividido em três, mas que também já demonstra sua ineficiência, injusta e desonesta, tal qual já fora o anterior. Economicamente, se antes a nobreza explorou o trabalho servil, mudaram-se as personagens, e agora uma elite burguesa se apodera do estado e explora o operariado. As condições continuam as mesmas. Alguns estudiosos falam hoje em pôs-modernidade pensando - ainda que muito obscuramente - em um fim desse sistema como narcisista, pretensioso e desagregador. No entanto, esquecem que tais características são mesmo uma continuação de tudo o que já fora no período medieval, vícios, trejeitos e pretensões. Portanto, urge que se repense toda essa medievalidade ainda incrustada naquilo que nos dias de hoje se convencionou chamar de modernidade.

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