sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Burocratas, Salários e Privilégios

Um dos ingredientes que apontam para a decadência do estado moderno é a deteriorização de uma burocracia incrustada em setores determinantes da estrutura pública e que, por sua vez, dá origem a uma aristocracia, detentora de polpudos salários e privilégios desmedidos. Indicados, eleitos ou concursados, todos, se assenhoram da coisa pública como se fosse patrimônio seu e o sentimento de servidor público se perde. Que o estado precisa de um controle e que a burocracia é, por essência, essa capacidade racional de organização das estruturas, das hierarquias e dos procedimentos não há dúvida alguma. No entanto, foi dessa mesma necessidade que surgiram esses privilégios e, daí, o peso pernicioso daquilo que deveria existir para sustentação ao funcionamento do estado. Essa situação, nos variados países, é bastante diferente: alguns vivem no serviço público ainda uma medievalidade, os funcionários acreditam que são senhores e que a população está a seu serviço, em outros, muitos privilégios já foram cortados e o mais alto funcionário público vive adequadamente como qualquer cidadão comum. No caso brasileiro, por exemplo, deputados, senadores, governadores, magistrados, ministros e presidentes de empresas públicas ganham, além de salários muito altos para o nível médio da sua população, detém privilégios que não se justificam como, passagens aéreas, um vasto grupo de assessores (muito além do necessário), auxílio moradia (mesmo possuindo imóvel na cidade que atua); isso para não falar de casos como auxílio gravata, auxílio creche, auxílio viagens e aí por diante. Se isso não bastasse, todos acreditam que seus setores só podem funcionar se forem autônomos: além dos três poderes que a autonomia parece natural, também o banco central, os tribunais de conta, o ministério público, a receita federal, a polícia federal e por ai segue. Todos querem autonomia. Quando se fala que é um dos ingredientes que denota a decadência do estado moderno isso tem dois motivos: primeiro, mostra que - em maior ou menor intensidade - é uma realidade própria desse modelo de estado, portanto enraizada pelo mundo a fora; segundo, dentro dessa importância, havendo esse modelo de estado, haverá sempre burocratas ávidos de altos salários e privilégios. Se nos tempos da Idade Média a legitimidade era feita por conjuntos de valores e honrarias, nos tempos da modernidade é feita com o preto no branco, com a chamada racionalidade cientificista. Ou seja: a decadência do estado moderno está incrustada na burocracia, a sua própria essência.

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