sexta-feira, 18 de agosto de 2017
O Homem, a Morte e o Nada
O medo da morte só os humanos sentem e é motivado, na verdade, pelo medo do não mais existir e assim se deparar com o nada, o lugar de onde saiu e para onde inevitavelmente, voltará. Acontece que o nada só existe enquanto construção abstrata, enquanto não existir de algo; nesse caso, o nada é dirigido para um objeto específico.
Os humanos têm medo da morte porque têm consciência e aquele que é dotado de consciência não aceita o mistério, o estranho, não aceita aquilo que não domina, aquilo que está para muito além da sua capacidade de entender e de se ambientar. Acontece que se os outros animais são dirigidos pelo instinto, já os humanos criaram uma coisa chamada de razão, que é o cálculo, a metragem, o controle de tudo que está a sua volta. No mistério, no estranho não há controle e na sua ausência, o desespero. Ou seja: a consciência é a capacidade de se perceber no mundo. E o medo acontece quando se tem a noção de não entender e não dominar o que se apresenta. O problema é que a morte é a entrada para esse nada, para esse mundo não dominado
Então a pergunta é: por que não se tem medo do período anterior ao nascimento? O nada no pós-morte pode ser estabelecido como no pré-nascimento e ambos, são momentos de uma mesma eternidade. Acontece que o antes do nascimento, aceita-se em vida, que naquele instante reinava o nada absoluto, ou seja: sem a consciência de qualquer existência, já que não havia, nem mesmo, a estrutura cerebral formuladora da consciência.
Mas tudo que existe teve um começo, portanto, um dia nasceu e a única certeza é que um dia não mais vai existir. E a pergunta colocada é: para onde vai essa consciência que os vivos, seres inteligentes, detém? Para lugar nenhum. Para o mesmo lugar de onde veio antes de existir, para o nada absoluto e mais, sem a estrutura cerebral capaz de produzir uma consciência, produtora do medo.
É do medo da morte que se originam os erros, frustrações da alma humana e todas as maledicências experimentadas, é por conta desse medo da morte que se realizam as guerras, a sede de poder como extensão de uma vontade de perpetuação. É pelo medo da morte, medo do nada, de um vazio eterno, que as pessoas não se aceitam como pessoas e sonham em serem elas os deuses. Sonham com conquistas, com grandiosidades, mesmo que chamem um ser de Deus e se dizem devotos, querem-no como com um ser servil, sempre à sua disposição. Um ser que existe com medo do nada.
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