sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O Humano, a Política e a Guerra


Diz-se que a guerra é uma extensão da política, pois sua existência acontece exatamente quando já não há mais acordo, nenhum tipo de conversação, e é nela que o espírito humano, na sua essência animal, se sobressai. Se na política impera a necessidade de negociação com aquele que se considera o opositor, a parte contrária nos interesses, na guerra o que existe é a vontade de um grupo pertencente a um território, ou a um determinado pensamento, contra a vontade daquele que é chamado, o adversário, o inimigo.
Acontece que o humano, esse animal que se tornou gregário, urbano, pode ser dividido em dois: em algum momento ele é público e, em outro, ele é privado. Em sua vida pública elevam-se os "bons modos", necessários para a convivência no grupo; assim, respeita-se todos os protocolos, as leis jurídicas, os princípios morais etc; ou faz porque sente a necessidade de agradar o grupo, ou por obrigação pois, caso contrário, sofrerá as sanções dos seus iguais. 
Portanto, é para servir ao mundo da vida pública que existe a política; a obrigação de conviver impõe ao indivíduo ou, aos grupos, a necessidade de negociação, ficando explícito o que convém negociar e o que a convicção lhe impõe de reservas. Por isso, política a é arte das negociações, portanto, a arte da convivência, necessária para a vida humana gregária.
Por outro lado, mesmo que se fale em tratados internacionais referentes aos eventos bélicos, numa guerra o que impera é a selvageria no que tange ás disputas entre os grupos em conflito.  Os humanos, pertencentes às sociedades em guerra, deixam sobressair suas vontades privadas, seus mais recônditos interesses, e o espírito bélico do egoísmo individual sente que pode fazer o outro aceitar, a força, os seus interesses.
Por isso, numa guerra sempre se sobressaem os nacionalismos, os patriotismos e atinge-se as xenofobias, porque vive-se uma espécie de "egoísmo social"; e o pensamento é que "o meu grupo é o detentor da verdade". Da mesma forma, numa época de conflitos, faz-se necessário o estímulo às tradições, o culto aos vultos sagrados da nação, a entoação de cantos populares etc., como forma de expressão da vontade de um todo unificado.
Ora, não se trata aqui de tecer defesas belicistas ou pacifistas, mas de tentar entender esses dois lados de um mesmo indivíduo, que tanto pode fazer política, ser cortês e entender o modo de ser e de querer do outro, como destruí-lo fisicamente, moralmente, pilhar seus bens e acabar com toda a sua geração. Quer dizer: esse mesmo indivíduo carrega em si, um ser que negocia, que faz acordo com o diferente e, outro, que pode chegar a situações do mais profundo e conflituoso interesse egotista, a guerra.

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