sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O Estado, o Exército e a Polícia

Quando se conceitua estado se ressalta a estrutura jurídica e política, autônoma, de um povo, e isso é correto, mas em geral nada se diz dos órgãos necessários para que esse exista. Quer seja o estado uma instituição fortemente totalitária, ou extremamente liberal, não poderá existir se não houver o seu braço armado - quer seja um exército, uma polícia, uma guarda nacional, ou seja lá o nome que se der.
Se a legitimidade do governante é de ordem divina, ou democrática, também não importa. Reis e imperadores da antiguidade se preocupavam com seus homens armados e treinados, tanto para manterem a ordem interna quanto para fazerem o enfrentamento contra possíveis invasores.
Por mais que Immanuel Kant lembre que há uma relação direta entre a condição humana e a existência da lei,  diz ele que "nada é mais belo que as estrelas no céu e a lei moral no coração dos homens", parece que a imposição de uma dada ordem continua sendo possível com a força de um braço armado. Essa força, nos tempos antigos, era uma única corporação - os mesmos homens que mantinham a ordem interna eram também os que iam para o front em guerra contra o inimigo.
Na modernidade com o reordenamento estatal, com o novo papel dessa instituição frente às novas relações sociais e o avanço da organização burocrática, essa força armada foi reorientado e sistematizada com novas roupagens, agora dividida em pelotões preocupados com a ordem urbana, fazendo cumprir a lei produzida pelo estado e a de defesa contra inimigos invasores: a polícia e o exército. Mais tarde esse exército foi dividido entre os responsáveis pela defesa terrestre, defesa marítima e defesa aérea; já a polícia se dividiu em civil, militar, federal, legislativo e uma série de outras forças mais.
A partir daí, as duas estruturas se consolidaram em suas especializações, cada uma com a sua forte carga legal, burocrática, hierárquica e técnica, tomaram rumos diferentes, de modo que o que uma faz a outra não tem a mesma habilidade. Isso porque a manutenção da ordem nas sociedades complexas não demandam necessariamente força bruta e sim, mais treinamentos intensos, específicos e um ordenamento da corporação voltado exclusivamente para os conflitos urbanos. Da mesma forma os treinamentos do exército são voltados exclusivamente para o combate ao inimigo, ao invasor estrangeiro, com estratégias e táticas de ataques e recuos, se utilizando estudos sobre o adversário em uma guerra de movimento. O resultado é que as corporações, em suas especialidades não vêm interesse nos trabalhos do outro: a polícia não tem treinamento e não quer fazer os trabalhos do exército, da mesma forma o exército não está preparado e se vê deslocado em ter de fazer os trabalhos da polícia.

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