sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A Contrariedade dos Reacionários

Quando eclodiu a Revolução Francesa, em 1789, os maiores intelectuais saudaram-na como o grande evento de profundas transformações políticas, sociais e econômicas em todo o Ocidente. E foi mesmo. A Revolução Francesa foi um período de intensa agitação e de profundas transformações não só na França e na Europa, mas na América e em boa parte do mundo. Os privilégios feudais, aristocráticos e até religiosos evaporaram-se do dia para noite, sob um ataque sustentado por grupos políticos de esquerda, com o intuito de levar em frente o ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Em conseqüência, os antigos privilégios da tradição e hierarquia aristocrática foram abruptamente derrubados pelos novos princípios: cada indivíduo é um cidadão, com direitos, deveres e benefícios iguais. Mas toda revolução tem um período de grande transformação que é seguido por outro de terror, por outro de restauração e, finalmente, o de continuação dos avanços daquilo que outrora fora iniciado. Alguns anos, após iniciada a Revolução, a França se viu envolta no que ficara conhecido como período do Terror e, logo a seguir, chegava Napoleão Bonaparte para a Restauração; com a queda do grande general a voltou-se para a implementação dos ideias revolucionários. Acontece que as grandes mudanças por que passam as sociedades não são aceitas por todos o tempo todo. Quando os privilégios são arrebatados, os ofendidos praguejam no início, mas depois reagem e avançam contra os revolucionários. A tentativa é sempre de eliminar até os menores resquícios do que até então fora mudado. No entanto, assim como é natural a reação dos perdedores de privilégios, é natural também que aqueles que sentiram o gosto bom das inovações sociais e econômicas e, em algum momento, reajam e queiram que as mudanças continuem. Aquele que aprendeu que comer todos os dias é possível, que aprendeu que também pode dar um presente para os familiares, ou que pode por o filho para estudar, vai querer mais. Enfim, a França é hoje o centro cultural do mundo, fez a sua reforma agrária e uma profunda distribuição de rendas (os castelos desocupados hoje são restaurados para apreciação pública) e vive aquilo que se chama: “estado de bem estar social”. Acontece que se o individuo é senhor e mora num palácio ou é plebe e mora num casebre não importa: todos têm sonhos e vontades represadas por dentro.

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