quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Entre o Capitalismo e a Ostentação

No sistema econômico capitalista há a necessidade constante da figura do empreendedor, já que a iniciativa dos investimentos é transferida do campo público para o campo privado. Nesse caso, o burguês, como ficou conhecido o capitalista, é aquele que realiza os tais investimentos e aguarda, deles, os ganhos financeiros: o capital. Nos tempos atuais é muito comum as pessoas qualificarem uns aos outros como capitalistas; fazem isso, em geral, quando alguém, compulsivamente, compra mais e mais objetos supérfluos, ou sente a necessidade de ostentar riquezas. No entanto, não é esse o capitalista. Capital vem de cabeça que quer dizer a parte principal de uma soma de dinheiro que se investe esperando sempre o seu aumento. Nesse caso, o capitalista, o empreendedor, é aquele que tira o dinheiro do seu bolso e o investe em uma atividade privada com o intento de obter retornos financeiros maiores do que fora, então, o investido. A fina flor do capitalismo, o seu crescimento avassalador, dominando o Planeta não é feita com ostentações, mas com os três elementos básicos: investimentos privados, trabalho e, obvio, a expectativa de lucros. O sociólogo alemão, Max Weber, deixou isso muito claro em seu famoso livro, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. A ostentação nada tem a ver com a acumulação de capital, a não ser que o capitalismo em sua origem, no final da Idade Média e início da Idade Moderna, quando o burguês, já enriquecido, não conseguia entrar nos espaços políticos e sociais, ocupados pela nobreza e o absolutismo de então; restava-lhes uma única opção: usar as vestes mais caras que encontrava, ou as jóias mais raras, as mais belas carruagens e os casarios imponentes, como forma de impressionar a todos. A ostentação foi um artifício encontrado pelo burguês para se impor àquele mundo dominado pela sociedade feudal. Meio milênio depois, a economia capitalista predomina no Planeta, mas o espírito do capitalismo, a vontade do empreendedor, daquele que acumula capital, morre a cada dia; em algumas sociedades mais que outras. Em seu lugar toma acento apenas a ostentação pela ostentação; mesmo que os objetos a serem mostrados sejam comprados a duras penas, com pagamentos em prestações mensais infindáveis, provocando endividamentos inimagináveis. O interessante é que alguns se arvoram em se autodenominar capitalistas, ou empreendedores, mas não são já que o que querem é atuar com dinheiro público ou esperam que o governo realize renuncias fiscais em seus favores. Pior, fazem isso já esperando usar os retornos de tais investimentos em mais ostentação e, ainda, se achando no direito de se ausentar do trabalho. .

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