segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Savonarola: os Novos Moralistas

Em todos os tempos, em maior ou menor escala, a humanidade viu crescer os seus conservadores, hipócritas e fariseus, homens que se viram como salvadores da pátria. Assim foi com o italiano Jerônimo Savonarola, nascido em Ferrara, no dia 21 de setembro de 1452 e morto na cidade de Roma em 23 de maio de 1498, por Cesar Bórgia, a mando do papa Alexandre VI. Savonarola foi um padre dominicano e pregador na Florença nos tempos da Renascença. Ficou conhecido por suas profecias, pela determinação de que as famílias deveriam prezar pelos bons costumes, por apelos à reforma da Igreja Católica, assim como pela destruição de objetos de arte e artigos de origem mundana. Monge dominicano vindo de uma tradicional família do interior, devotou-se ao estudo da filosofia e medicina. Conta-se que em 1474, durante uma viagem a Faenza, ouviu um sermão que o fez renunciar às coisas do mundo, passando a viver em Florença e, em exclusividade, para as causas da sua congregação e ao combate a devassidão, a formicação e a toda sorte de imoralidade. Ele se via como um "enviado de Deus" para combater os desvios da humanidade e todos os desvios em que a estrutura governamental florentina havia caído. Mas as ações de um homem que se acha investido de poderes acima de tudo e de todos chega a loucuras inimagináveis. Livros como os de Ovídio, Propertius, Boccacio, entre outros foram queimados a seu mando, no que ficou conhecido como "fogueira das vaidades"; condenando a todos que se desviaram para o mal caminho e propondo a remissão dos pecados. Savonarola declarava-se um profeta: escreveu um livro sobre suas visões, Compendium Revelationum, e conseguiu apoio da população para afastar os Médici do poder e declarar Florença uma "república popular". O interessante é que durante certo tempo, enquanto lhe convinha, a burguesia comerciante o apoiou, mas quando se viu demasiadamente enfrentando a Cúria Romana, retirou-lhe o apoio. Não se dando conta disso, Savonarola recusou a convocação papal e prosseguiu a desafiar a todos que considerava desviados do caminho, pregando e declarando Florença o novo centro do cristianismo no mundo. Já descartado pela elite privilegiada, foi capturado pelo exército, levado a Roma e condenado por blasfêmias e heresias. Nos tempos atuais, novos moralistas tomam acento em igrejas, meios de comunicação e redes sociais para destilarem seu veneno contra pessoas que nada fizeram, a não ser lutar por um mundo melhor. Alguns, com poderes junto ao estado, chegam a acreditar que são mandados por Deus, mas não passam de novos Savonarola que, perdendo o apoio da burguesia, nada lhes restará a não ser a "porta dos fundos" da história.

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