sexta-feira, 14 de outubro de 2016

À Direita Ingênua

Nesses tempos de ostentação, de aparências, as pessoas, em geral, não sabem muito sobre economia, política ou sociedade – algumas simplesmente nada sabem, mas precisam, ou acham que precisam mostrar que sabem. Seus conhecimentos se reduzem ao que leram nas redes sociais, comentários de outros que sabem menos ainda; alguns o nível vai um pouco acima e sobe para a audiência do Jornal Nacional, da Rede Globo, ou seu equivalente e, outros, sobem até uma leitura no Google e nada mais. Ao saberem em nível zero sobre temas tão relevantes para a vida em sociedade, essas pessoas se sentem acuadas e, por vezes, até agressivas. Ao saberem pelo senso comum que esses que o contrariam, e que lhe dizem o que até então não sabiam, são pessoas politicamente engajadas na posição de esquerda, tentam se posicionar e mostrar que sabem algo se dizendo de direita. Mas, se nada sabem sobre Economia Política, também nada sabem sobem sobre posições políticas de esquerda ou de direita, ou o que movem essas duas tendências. O que se percebe é que se essas pessoas soubessem a exata medida do sentido político daquilo que afirmam, sentiriam vergonha e, no mínimo, fugiriam do debate. Na maioria das vezes as posições que defendem são radicalmente contrárias ao seu modo de vida, as suas necessidades e até aos seus sofrimentos como pessoas trabalhadoras com uma vida difícil no dia a dia. Nesse caso, o interlocutor que detenha alguma leitura, tem dois caminhos: ou entra no embate, tentando mostrar a contradição daquilo que o interlocutor afirma, ou deixa-o de lado, entendendo que não há algo a fazer, que esse é um caso perdido. O que não percebem esses atores sociais, que ingenuamente se auto-afirmam de direita, é que aquilo que dizem não são seus discursos, mas discursos daqueles que detém o poder econômico. A sociedade moderna é uma sociedade de segregações: mantém privilégios para alguns e reserva as dificuldades para outros. Mas o mais estranho é que pessoas que não detém privilégio algum não percebam que aquilo que as redes sociais, que o Jornal Nacional e outros meios de comunicação afirmam, e reafirmam, são apenas réplicas de discurso dominante, daqueles que defendem os seus próprios privilégios. Acontece que na política não vale a ostentação, as aparências, ou qualquer tentativa de mostrar aquilo que não é ou não tem. As pessoas podem ser de direita ou de esquerda, mas precisam saber o que é isso e se aquilo que defendem é, na verdade, a afirmação de sua ingenuidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário