quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

A Ignorância e o Saber

A definição de ignorância, a grosso modo, pode ser estabelecida da seguinte maneira: as coisas existem e cada uma, a sua maneira e a seu tempo, e da mesma forma acontecem os conhecimentos das suas existências. E, ao contrário disso, o desconhecimento, a não consciência de que a todo instante as coisas acontecem é o que se pode chamar de não conhecimento, ou de ignorância.
Mas há uma complexidade no conceito. Se a ignorância depende do não conhecimento de algo é preciso que se pense esse algo e todas as possibilidades de sua existência. Os saberes podem ser das existências das coisas concretas: as pedras existem, assim como as árvores e as pessoas - são objetos tratados como aquilo que se tem certeza das existências, ou ideias, noções, valores, ideologias, métodos e conceitos, pensados como noções subjetivas que podem se alterar de pessoa para pessoa. 
Ora, a caneta que está na minha mão não pode ser negada por aquele que a vê, afinal, um fenômeno imagético entra pelos olhos, assim como minha sensibilidade tática, vai ao cérebro e me dá certeza sobre aquilo que vejo e toco, mas não posso pensar com certeza absoluta a existência de tal objeto. Nesse caso, é praticamente impossível pensar em ignorância sobre um saber que está calcado no conhecimento se algo de fato existe ou não.
Questões sobre os conhecimento das coisas, se existem, do que são formadas e a relação entre elas remontam as primeiras tentativas humanas de um pensar elaborado. Contam os historiadores que Thales, da cidade de Mileto, na Ásia Menor, afirmava que homens, árvores, pedras, ferro e tudo do que é formado o mundo tem origem na água e propriamente constituída por ela. Depois cada pensador fora reafirmando o que ele havia dito ou contrariando-o e, assim, aumentando em número os novos saberes.
O ignorante vive aquém do pensamento de Thales de Mileto. Se ele não conhece as relações como se dão, utiliza-se de partes desconexas de mundos paralelos. Não percebendo as conexões existentes nas relações entre as pessoas, entre essas e as situações e mais  entre tudo isso e as coisas físicas, o ignorante tenta estabelecer atalhos para chegar ao ponto em crise, mas o saber não tem atalhos, não tem partes autônomas, é um todo articulado, e ele se desvirtua e se distancia do seu objeto.
Por tanto, a não ignorância significa a dominação dos saberes e, assim, a percepção da complexidade das relações. O ignorante, não detendo informações claras do objeto, tende a simplificar e acaba fazendo discursos desconexos e tomando decisões, às vezes, contrárias áquilo que de fato deseja. Aliás, uma característica básica da ignorância é a atitude de falar e agir de forma desconexa das suas reais vontades.

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