quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Capitalismo e Paternalismo

O regime capitalista de produção vai muito além das leis econômicas de oferta e procura, interfere diretamente na distribuição das riquezas da sociedade e, assim, molda as relações das pessoas, mesmo nas menores particularidades. Certamente que as pessoas são dirigidas por sua cultura, pela sua religiosidade, pela autonomia da sua inteligência, mas atras de tudo isso vem o princípio econômico ditando cada passo.
Acontece que o capitalismo se estrutura socialmente a partir de uma divisão entre os possuidores de bens, aqueles que têm muita riqueza, os que têm pouca e aqueles que nada possuem além dos seus braços para o trabalho e sexo para fazer mas braços para o trabalho. Claro que nesse elenco encontram-se os deserdados do sistema, os miseráveis, indivíduos que são descartados completamente. No entanto, mesmo que se fale em livre mercado, em livre concorrência, e todos os pontos da ideologia liberal, para que o regime se mantenha é preciso que algumas condições sejam estabelecidas: o espírito de concorrência, a necessidade de ostentação, a desigualdade social etc.
A lógica de um sistema concorrencial pretende que a "mão invisível" do mercado determine os avanços e os recuos das negociações entre os indivíduos, mas no fundo a lógica é a do "tudo para mim, nada para o outro". E, nesse caso, aparece o papel do estado que dentro dos ensinamentos liberais deve continuamente encolher; no entanto, os investidores capitalistas - com o fim da ética protestante - querem mesmo é um paternalismo público que lhe dê guarida aos investimentos. 
Nesse espírito de concorrência é preciso que se mantenha também entre aqueles que pouco ou nada possuem que paire uma fragilidade para que se envolvam em uma vida inconstante, com buscas perenes e o inevitável medo da perda dos bens que já possuem, do status que por acaso mantemham, do emprego atual etc. Caso contrário, caso haja segurança, camaradagem, haverá parceria, organização social e o inevitável enfrentamento contra o estado de coisas que se apresentam.
Isso porque, quando se fala da mentalidade de um capitalismo paternalista, significa que uma parte da sociedade pensa o estado só para si.  O liberalismo, o livre empreendedorismo, é só da boca pra fora: querem mesmo é proteção. Cobra-se do estado, explora-o, mas quando é preciso dar ao sistema, a contribuição para a estrutura e o funcionamento da sociedade, nega-se. Por isso a necessidade de fragilidade, de medo e um jogo perigoso de desinformação para com a maior parte da população.

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