Acontece que o capitalismo se estrutura socialmente a partir de uma divisão entre os possuidores de bens, aqueles que têm muita riqueza, os que têm pouca e aqueles que nada possuem além dos seus braços para o trabalho e sexo para fazer mas braços para o trabalho. Claro que nesse elenco encontram-se os deserdados do sistema, os miseráveis, indivíduos que são descartados completamente. No entanto, mesmo que se fale em livre mercado, em livre concorrência, e todos os pontos da ideologia liberal, para que o regime se mantenha é preciso que algumas condições sejam estabelecidas: o espírito de concorrência, a necessidade de ostentação, a desigualdade social etc.
A lógica de um sistema concorrencial pretende que a "mão invisível" do mercado determine os avanços e os recuos das negociações entre os indivíduos, mas no fundo a lógica é a do "tudo para mim, nada para o outro". E, nesse caso, aparece o papel do estado que dentro dos ensinamentos liberais deve continuamente encolher; no entanto, os investidores capitalistas - com o fim da ética protestante - querem mesmo é um paternalismo público que lhe dê guarida aos investimentos.
Nesse espírito de concorrência é preciso que se mantenha também entre aqueles que pouco ou nada possuem que paire uma fragilidade para que se envolvam em uma vida inconstante, com buscas perenes e o inevitável medo da perda dos bens que já possuem, do status que por acaso mantemham, do emprego atual etc. Caso contrário, caso haja segurança, camaradagem, haverá parceria, organização social e o inevitável enfrentamento contra o estado de coisas que se apresentam.
Isso porque, quando se fala da mentalidade de um capitalismo paternalista, significa que uma parte da sociedade pensa o estado só para si. O liberalismo, o livre empreendedorismo, é só da boca pra fora: querem mesmo é proteção. Cobra-se do estado, explora-o, mas quando é preciso dar ao sistema, a contribuição para a estrutura e o funcionamento da sociedade, nega-se. Por isso a necessidade de fragilidade, de medo e um jogo perigoso de desinformação para com a maior parte da população.
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