sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Família

O surgimento dos humanos, como seres vivíparos,  acontece a partir de uma cópula (pelo menos em condições naturais) que pode ser tanto dentro ou quanto fora da instituição família. Essa, por sua vez, nasce das circunstâncias às quais os humanos foram postos, tanto é que se percebem as suas diferenças no tempo e no espaço. 
Para alguns, os laços familiares são muito fortes e agregam, além de irmãos, pai e mãe, também tios e primos - de primeiro e segundo grau; para outros, família é apenas o núcleo primário de pai, mãe e filhos. Entre os muçulmanos a instituição familiar trás a poligamia (poliginecogâmica). Por outro lado, no interior da África constatou-se a existência de famílias machistas, mas com costumes e tradições repassados de forma matrilinear e mais, sem a figura paterna. Não existe o papel de pai. Nesse caso, as pessoas nascem e permanecem na família da mãe e o que o Ocidente chamaria papel de pai, é desempenhado pelos tios maternos.
Mas as instituições, não sendo naturais, são frutos da história; isso quer dizer: se alteram com o tempo adquirindo sempre novas facetas, como é o que tem acontecido com o estado, com a escola, com o exército, com a igreja etc. Essas instituições hoje não são mais aquelas que vieram do passado. Os clãs, as organizações familiares da antiguidade, não sobreviveram até os dias atuais, assim como não sobreviveram os nomes, os brasões, e todas as honrarias se desfizeram.
Portanto, se a família de hoje é bastante diferente da de outrora, o que sobreviveu? Talvez aí esteja a essência dessa instituição que tanto se fala e pouco se conhece. O que permaneceu em todos os tempos foi sua função primordial e que não é exatamente a de parir os humanos, mas protejer os membros do grupo, dar-lhes o aconchego, dar-lhes o amparo.
Se, por acaso, um indivíduo recebesse de seu médico uma noticia catastrófica que estaria com uma doença terminal e que, por isso, possuiria só mais alguns meses de vida, para quem ele contaria no desespero da realidade que lhe atormenta? Quem são essas pessoas, as únicas que ele quereria ver, ouvir e abraçar? Essas pessoas são a sua família e que não serão, necessariamente, os seus pais, os seus filhos, irmãos, primos ou netos.
Os pensamentos mais conservadores defendem uma família tradicional, afirmando a importância da tradição e dos bons costumes. No entanto, alguns agrupamentos de pais e filhos, que já não podem ser chamados de família, violentam uns aos outros, matam-se e estupram seus vulneráveis, enquanto grupos de pessoas sem qualquer laço de parentesco vivem conjuntamente respeitando os espaços, as vontades e os interesses dos outros. E aí, para encerrar, a pergunta fundamental: se a tal instituição é tão elevada, nos dois exemplos acima, qual o grupo é mais digno de ser chamado de família?

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