Que o mercado interfere diretamente nas manifestações artísticas e culturais de qualquer sociedade muita gente já falou. O pensador alemão do século 19, Karl Marx, já cunhara conceitos como infraestrutura e superestrutura para dizer que as relações econômicas na produção de riquezas interferem diretamente na produção cultural de um povo e não o seu contrário, como se poderia pensar.
Mas as interferências diretas na produção artística quem mais falaram foram os pensadores da chamada Escola de Frankfurt, ao afirmarem a existência - já nas primeiras décadas do século 20 - de uma indústria cultural. Ou seja: a arte passou a ser produzida nos mesmos moldes de quem produz qualquer outro objeto a ser posto no mercado, sapatos, parafusos, automóveis etc.
A relação com o mercado é clara: para vender mais, e aumentar os lucros, é necessário concorrer com o outro e observar o que ele está fazendo de diferente e que lhe trás algum retorno, para assim fazer também e ganhar o mesmo ou mais. No entanto quando isso se faz com a arte e se copiam as tendências, aquilo que se está vendendo perde a própria essência que é a espontaneidade, a possibilidade de deixar a porta da alma aberta e assim expressar toda a subjetividade humana.
Aos mesmo tempo que se louva o diferente, que se quer novas ideias - até porque o capitalismo necessita das inovações - mais as pessoas caem nas repetições ao fazerem cópias de tudo aquilo que foi aceito pelo mercado. E o resultado são as grandes produções cinematográficas e musicais cada vez mais iguais umas às outras; quem ouve uma dada música, ou assiste determinado filmes, ouve a todas e assiste a todos.
Seriam essas mudanças uma decadência, ou mesmo a extinção da arte que junto com a filosofia, desde o começo da humanidade fora uma das manifestações humanas mais elevadas? Seria o fim de uma era e o início de uma racionalidade puramente instrumental em que o "saber fazer" toma conta e perde o sentido do "por que fazer"?
Adorno e Horkheimer escreveram em A Dialética do Esclarecimento anotaram que os tempos modernos caíram numa pretensa racionalidade, mas que a fazerem isso entraram em uma mecanização e a práticas irracionais. O que se depreende de tudo isso é que a economia altera a tudo e a todos e só uma vanguarda política, um jardim de Epicuro, para pensar diferente e lutar contra as convenções.
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