terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Os Sabers e os Males

Um engano paira sobre as análises que comumente se fazem sobre a vivência humana e os seus saberes. Para alguns, todos os males que perseguem a população advém do excesso de saberes acumulados durante todos esses tempos de civilização e, para outros, ao contrário, é a falta desses saberes que acarretam todos os dissabores humanos. Nem ao céu, nem a inferno, cremos que essa questão está envolvida em uma maior complexidade do que aquilo que aparenta: não é o excesso desses conhecimentos que acarretam os males, tão pouco as suas ausências totais.
Ora, os problemas humanos não advém dos saberes acumulados nesses seis milênios de civilização, assim como os não saberes, mas o não saber acompanhado de um pensar que sabe; ou, do outro lado, um não saber que não sabe. Acontece que o fogo, a roda, a máquina a vapor, a energia nuclear, os computadores e todas as invenções e descobertas são hoje conhecimentos usados dependendo - ou não - de outros saberes de ordem ética, política, econômica e social, necessários para o entendimento da totalidade humana.
Aí reside a complexidade: os saberes acumulados edificaram os homens e aqueles que os detiveram são hoje as pessoas que conseguem ver o mundo na sua totalidade e percebem as franjas do real. Já aqueles que não sabem, ou que ignoram tais saberes, reservam-se ao seu mundo e não acrescentam maldades aos seus iguais.
O perigo que a humanidade enfrenta são esses saberes simplificados, saberes diminuídos pela preguiça, com o propósito de facilitar as compressões, as notas de rodapé, as citações das citações, as frases na mídia social, tudo isso criam na mente uma ilusão de domínio do conhecimento e a pessoa não sabe sobre algo, mas não sabe que não sabe, e se aventura a debater. E assim será dirigido o seu destino e, consequentemente, o destino daqueles que fazem parte da mesma sociedade já que todos estão interligados.
Os hiatos, a falta de um começo, bem como de um fim, distanciam qualquer pretenção de um esclarecimento satisfatório. Aquele que não sabe que não sabe é o que sabe pouco; sabe de forma destorcida. É o que sabe que tal coisa existe, mas seus conhecimentos ficam no senso comum, não são suficientes para perceber o quanto ainda lhe falta para ter uma noção de totalidade. Foi encima disso que Sócrates admitia "só sei que nada sei" ou que Jesus de Nazaré ao ensinar que "para entrar no reino de Deus é preciso nascer de novo".

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