segunda-feira, 9 de abril de 2018

A História e os Algozes

Na história não existe anjos ou demônios, mas ela é implacável com os algozes, com os tiranos, com aqueles que nos seus tempos perseguiram e encarceraram e mataram, apoiados por uma parcela da população - crente de que estava fazendo trabalhos de salvação. Tempos de higienização social. Os juízes que julgaram Nelson Mandela, Martin Luther King Jr, Mahatma Gandhi, para ficar apenas nas maiores evidências do último século, desapareceram. Os que não desapareceram, foram para a "porta dos fundos" da história; não são dignos de nem mesmo uma página.
O religioso espanhol, Torquemada, quando ordenava a morte na fogueira para aqueles que contrariavam os preceitos pregados pela estrutura de poder, e era aclamado como pessoa abençoada por Deus, hoje quando se fala em seu nome é para negar-lhe, é para lembrar o modo de como não ser. O mesmo aconteceu com Savonarola, o clérigo que gritava aos quatro ventos - na Itália quinhentista - condenando á morte aqueles que, segundo ele, desviavam dos preceitos da Santa Madre Igreja, e hoje a sua figura não passa de um desvairado reacionário, incapaz de perceber que a história não pára, mesmo que os mais conservadores tenham medo disso.
A história está cheia de exemplos de homens e mulheres desvairados em suas ações como imperadores, generais, magistrados e ditadores que decidiram impor suas vontades sobre os povos. De todos eles, restam hoje apenas as suas caricaturas ridicularizadas, mesmo que em seus tempos ostentassem o clamor e o louvor daqueles que viam nessas ações alguma forma de levar vantagem: Nero, Hitler, Richilieu, Stalin, Pinochet e tantos outros.
Nem anjos, nem demônios, na história não há lugar para maniqueísmo: todos esses homens e mulheres que julgaram e condenaram aqueles que por alguma forma destoaram do canto oficial eram humanos e se deixaram levar pela estrutura posta, mas com todos o tempo foi implacável condena-os ao lixo da história, a servir como base para se saber o que não se deve ser.
O estranho é que nenhuma dessas personalidades era iletrada. E há de se convencer que alguns até agiam acreditando que o que faziam era o que devia ser feito, porque acreditavam haver encontrado o verdadeiro caminho, mas não basta conhecimentos gerais, nem mesmo boas intenções, é preciso que se perceba que além das boas vontades e das aparências há sempre uma humanidade que não pára, que produz história e as interpreta. Amanhã é sempre outro dia.

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