quarta-feira, 25 de abril de 2018

Entre o Público e o Privado, a Castração Social

Cada indivíduo é dotado de duas entidades, uma pública e outra privada. Enquanto a primeira é aquela que relaciona o indivíduo com as demais entidades públicas - já que, necessariamente, se relacionam - a segunda, diz respeito apenas ao indivíduo em si. Certamente que as duas se confrontam, se alimentam e se excluem quando no recôndito de seu quarto acontece a reflexão desse indivíduo. É aí que surgem os seus medos, as suas frustrações, as suas paixões e ainda outras condições enfrentadas.
Mas o que em geral não se leva em conta é que nesse mundo privado, as pessoas desprovidas de recursos financeiros, só vão ter sossego se no no mundo público lutarem com vigor de modo a construírem juntas uma sociedade mais justa, que vá ao encontro das suas necessidades. Pessoas livres lutam por seus interesses, por aquilo que acreditam ser o melhor para si e para os seus filhos.
A castração social acontece quando se tira da população a possibilidade de luta política, ou seja: quando um indivíduo, ou um grupo de indivíduos tomam conta do estado como se fosse seu e, assim, sozinhos, fazem eles a política. Os reis absolutistas tinham essa prática durante o medievo e nos primeiros anos da modernidade e até os ditadores do século 20. Desumanizavam as pessoas porque, alienadas de suas funções, não decidiam por aquilo que desejavam.
O mesmo aconteceu com os cidadãos de Atenas quando viram que sua cidade fora invadida e anexada ao império macedônio. Não havia mais porque debater na ágora os seus destinos. Eram os macedônios; os donos do poder que decidiam. Restava aos atenienses pensarem em si próprios, em suas existências. Restava aos atenienses pensarem em seus mundos privados: seus medos, suas frustrações e suas paixões.
Nesses tempos de Brasil dominado por castas de burocratas a decidirem o que é bom ou o que é ruim para as pessoas, nesses tempos em que não é mais dado o direito de fazer política porque magistrados, procuradores, secretários e assessores se encastelam em torno de suas prerrogativas e conduzem a sociedade como se donos fossem, resta pouco, ou nada resta, para um espaço público. Cabe a cada um voltar-se para suas vidas privadas.
Mesmo que as ciências se dividam, e a Sociologia se volte a estudar a vida pública com os enfrentamentos sociais e as lutas por igualdade e justiça, mesmo que a Psicologia e a Antropologia se voltem a estudar os resultados disso, juntando todas não se pode negar os estragos que a entidade pública pode provocar no mundo privado. Por um lado, tem-se um indivíduo morto por dentro, com medo da vida, sem ver sentido em sua existência, por outro, esse alguém não vê mais possibilidades de enfrentamentos devido ao medo, a frustração e a insegurança.

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