Um velho ditado afirma: "diga-me com quem andas que direi quem és!" Outros ditos populares fazem também afirmações um pouco mais parecidas ou mais diferentes, mas sempre abordam a relação entre pessoas e as possibilidades de se definirem alguém pelas companhias, pela roupa, ou por qualquer motivo. Certamente que esse modo de pensar por analogias pode fazer o indivíduo cair em contradições, devido as generalizações. As pessoas e as coisas não são iguais.
No entanto, algumas generalizações são necessárias. Se não fossem elas não seria possível a existência das ciências, já que essas se movem por comparação, dedução, indução etc., ou seja: analogias, referências, matrizes e cópias etc. Pode haver erros, as comparações podem resultar em conclusões estranhas por completo, mas a possibilidade de acerto é bastante alta. Do contrário não seria possível o planejamento das famílias, dos governos, dos exércitos e das empresas.
Portanto, a afirmação, "diga-me com quem andas que eu direi quem és!", tem sim um fundo de realidade. As pessoas são sim um pouco daquilo que escrevem, assim como são um pouco daquilo que falam. Não que elas sejam exatamente o conteúdo do que escrevem, ou falam, como o mentiroso que diz maravilhas sobre sua pessoa, mas por que dá condição de se fazer leitura em um intertexto de suas afirmações. Aliás, o mentiroso deixa mesmo é mostrar-se como mentiroso. Porque nesse intertexto está escancarada a sua instrução, a sua capacidade mental, as suas leituras, ou o inverso de tudo isso com seus medos, suas invejas e toda a sorte de problemas existenciais. E, nesses tempos de redes sociais, as pessoas deixam escapar dioturnamente aquilo que não são, quando falam maravilhas sobre si próprias, ou quando fazem suas análises políticas e econômicas.
Mas essas pessoas não devem ser enquadradas como mentirosas, pois nas suas práticas não há consciência de estarem fazendo o diferente, praticando a mentira. Pelo contrário, afirmam suas inverdades com convicção. Acreditam na facilidade do entendimento de um tema e emitem seus pareceres, e assim, se expõem mostrando aquilo que não são e, por continuidade, mostram o que verdadeiramente são.
Portanto, diga-me o que falas que direi quem és, diga-me o que escreves que direi quem és, diga-me o que defendes que direi quem és etc. Então, o "hábito faz o monge", não o hábito enquanto veste monacal, mas enquanto costumes, práticas e repetições desconectas da realidade, sem um pensamento mais elaborado, sem preocupar-se com provas, métodos, estrutura lógica etc.
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